Por Victor Manuel Barbosa Vicente e Dany Rogers
Os estudos da pesquisadora Cecília Mattoso desenvolvidos na COPPEAD/UFRJ, que resultaram no livro Me empresta seu nome? Um estudo sobre os consumidores pobres e seus problemas financeiros, e da pesquisadora Jessica Campara e outros pesquisadores intitulado O dilema dos inadimplentes: antecedentes e consequentes do ‘nome sujo’ demonstraram uma relação entre o empréstimo do nome para contração de dívidas de terceiros e o endividamento das pessoas em todas as classes sociais, atingindo com mais ímpeto as classes menos abastadas financeiramente.
O bom coração do brasileiro e a sua vontade em querer ajudar e ser solidário acabam, segundo dados do SPC Brasil e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), por levar 1 em cada 10 brasileiros a contrair dívidas por emprestar seu nome para terceiros. Estes órgãos e os resultados das pesquisas citadas anteriormente nos revelam outros dados importantes:
Estima-se que em torno de 15 milhões de consumidores brasileiros estão inadimplentes por terem emprestado o nome para terceiros, e uma das principais causas para esse problema é que, na maioria das vezes, não atentamos nem avaliamos bem as pessoas que nos solicitam esse favor. Geralmente, quem solicita: já possui restrições ao crédito (não tem “crédito na praça”); e/ou tem dificuldade para comprovar a renda ou ela está abaixo do exigido para o limite de crédito pretendido.
Essas informações nos mostram que o problema é gravíssimo. Pois bem, se esse amigo ou familiar está com o “nome sujo” e/ou busca um empréstimo em que a parcela não cabe em seu bolso, será que realmente você deveria ajudá-lo?
Os riscos e as consequências de se emprestar o nome
Para ajudar você nessa decisão, vamos elencar alguns riscos e consequências que podem ocorrer ao emprestar o seu nome para terceiros:
O que fazer então?
Quando lhe pedirem para fazer algum empréstimo tais como compras no seu cartão de crédito, abertura de crediário em seu nome, fiador de um aluguel ou um empréstimo bancário, sugerimos que não faça isso. E isso não é mesquinhez, é prudência. Dizer “não” pode prejudicar a amizade, mas emprestar o seu nome gera o risco de perder o amigo, o dinheiro e ainda ficar com o “nome sujo” na praça.
É fato que amizades acabam por dinheiro, namoro acaba por dinheiro e famílias brigam por dinheiro. Quando você dizer não, a pessoa naquele momento pode até ficar com raiva e decepcionado por você não ter ajudado, mas acredite, você estará salvando a sua relação com ela e ainda evitando problemas futuros, tanto no seu bolso quanto na sua relação com esta pessoa.
Em último caso…
Mas como o brasileiro é solidário e você não deve ser diferente de um brasileiro comum, com bom coração, gentil e companheiro, especialmente com amigos e parentes (isso é um traço da nossa formação sociocultural como povo e nação que nos dá um forte sentido de pertencimento, isto é, somos humanos e nos sensibilizamos com o próximo e sua dor e não há demérito nenhum nisso, pelo contrário), caso decida atender ao pedido do amigo ou familiar recomendamos:
Contudo, apesar dessas medidas serem importantes e diminuírem os seus riscos, elas não eliminam o calote, por isso esteja preparado financeira e emocionalmente para “pagar o pato” sozinho. E não se esqueça que você também é responsável pela situação, uma vez que poderia ter evitado dizendo “não” quando teve a oportunidade.
Victor Manuel Barbosa Vicente é Doutor em Administração pela UnB, professor da FACES e membro do Núcleo de Educação Financeira (NEF) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Entusiasta de estudos que combinam finanças e aspectos socioculturais do indivíduo. E-mail para contato: victorvicente@ufu.br.
Dany Rogers (@drdanyrogers) é Pós-Doutor pela UMinho (Portugal), Doutor pela EAESP/FGV, professor e coordenador do Núcleo de Educação Financeira (NEF) na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Casado com a linda Eliane (@achei.beleza), pai da Iasmim e apaixonado por viagens, cinema, conhecimento e novas experiências. E-mail para contato: danyrogers@ufu.br.