Por Dany Rogers e Andresa Carolina
Muitas pessoas têm a percepção de que receber altos salários implica em uma vida financeira estável. Sinto lhe informar que isso não necessariamente é uma verdade. Por isso, não espere ganhar mais para aprender a controlar o seu dinheiro. Inicie agora o seu orçamento doméstico: seja individual ou familiar.
Não é muito difícil no dia a dia encontrarmos pessoas que quanto mais recebem mais gastam, e que muitas vezes acabam se endividando e passando por sérias dificuldades financeiras em virtude deste comportamento. E também encontramos pessoas que não ganham muito, mas conseguem ter uma boa qualidade de vida: com casa e carro próprios; viagens anuais de férias e manutenção de seus filhos em boas escolas particulares, por exemplo. É possível fazer muito com pouco, assim como fazer pouco com muito, basta você querer e se empenhar.
Tudo isso pode ocorrer como consequência de um bom planejamento financeiro ou devido à um planejamento mal executado. Isso porque o que importa não é quanto dinheiro você ganha, mais como você gasta, administra e conserva esse dinheiro. Por isso lembre-se sempre que ter uma boa educação financeira depende muito mais dos seus gastos do que dos seus ganhos.
Neste artigo nós vamos lhe ajudar a entender melhor umas das principais ferramentas de um planejamento financeiro: o orçamento doméstico.
O início de um bom orçamento doméstico
O orçamento doméstico é um modo de identificar e controlar as despesas de um indivíduo e/ou família para que estas não ultrapassem as suas rendas. Ao contrário do que muitas pessoas (e pode ser que até você) pensam, fazer um orçamento doméstico não demanda conhecimentos aprofundados em finanças.
O que você precisa saber inicialmente para ter um bom orçamento doméstico é:
Existem diversos tipos de renda e é extremamente importante que você saiba em qual (ou quais) categoria sua renda se encaixa pois isso influencia diretamente na elaboração do seu orçamento doméstico. As principais categorias de rendas são:
Tipo de Renda | Definição | Exemplo |
Rendas Temporárias | Quando a renda que você recebe possui um prazo para acabar | Recebimento de aluguel de uma casa por seis meses |
Rendas Perpétuas | Quando a renda que você recebe não possui prazo para acabar | Aposentadoria |
Rendas Fixas ou Uniformes | Quando a renda que você recebe possui valores iguais ou variam muito pouco | Salários, Aposentadoria |
Rendas Variáveis | Quando a renda que você recebe possui valores diferentes | Comissão de vendas, bônus por produtividade, dividendos |
Você pode possuir mais de um tipo de renda e é isso que todos desejamos. Porém, quanto mais rendas você possuir maior deverá ser o controle financeiro sobre elas, para que saiba exatamente quanto recebe e quanto realmente pode gastar, evitando assim que você caia na armadilha de achar que pode gastar sem controle pelo fato de suas rendas serão “altas” demais.
É de suma importância que você lembre sempre que a sua renda líquida é o valor que você recebe efetivamente: valor que “sobra” após terem sido feitos todos os descontos devidos tais como impostos, INSS, contribuição sindical entre outras.
Em relação as despesas podemos dividi-las em duas categorias principais:
No quadro a seguir separamos para você alguns exemplos de despesas fixas e despesas variáveis:
Despesas Fixas | Despesas Variáveis |
Aluguel / Prestação de casa | Alimentação |
Condomínio | Cuidados pessoais |
Empregada doméstica / Diarista | Transporte / Combustível |
Escola particular dos filhos | Água / Luz / Gás |
Faculdade dos filhos | Juros do cheque especial / cartão de crédito |
Plano odontológico | Passeios / Viagens |
Prestação do carro | Cinema / Teatro |
Seguro do carro | Farmácia |
Seguro de Saúde | Estacionamento |
IPTU | Vestuário |
IPVA | Cuidados com animais de estimação |
É claro que existem outras despesas mas é importante ter em mente que na elaboração de um orçamento doméstico, todas (e não somente as apresentadas no quadro) as despesas devem ser listadas MINUCIOSAMENTE, até mesmo aquelas consideradas irrisórias por você. E para isso, você terá de fazer um esforço e ter MUITA disciplina, além de trabalhar em equipe com sua família caso seja casado e tenha filhos. Mas anime-se pois isso lhe trará muitos benefícios futuros: pode ter certeza disso.
Depois da identificação de todas as suas rendas e despesas, você deverá fazer a seguinte conta:
RENDAS – DESPESAS = SALDO
Após esse cálculo, têm-se a parte crucial do seu orçamento doméstico: Análise do resultado obtido.
Em ambos os casos é importante que sejam tomadas algumas atitudes. Não adianta fazer o seu orçamento doméstico se a sua intenção não for agir utilizando o máximo possível das informações extraídas dele.
Comportamentos e atitudes que lhe ajudarão no seu orçamento doméstico
Não fuja da realidade, principalmente se tiver uma forte percepção que a sua situação financeira não está boa. Ignorar o resultado obtido não irá lhe ajudar em nada! Fuja do efeito avestruz que é a tendência que temos de ignorar informações potencialmente ruins para evitarmos o desconforto psicológico oriundo do conhecimento adquirido pelas informações.
E não se engane, esse viés comportamental é bastante comum quando o assunto é a elaboração do orçamento doméstico. Não queremos saber, ou relutamos em conhecer, a nossa real situação financeira, e por isso não fazemos (ou sempre temos uma “boa” desculpa para não fazer) o nosso orçamento.
O orçamento doméstico em si é uma ferramenta muito boa e eficaz, mas se junto à sua aplicação não estiverem também disciplina, força de vontade e ações efetivas de sua parte, ele se torna algo insignificante e sem utilidade.
Por isso, separamos algumas ações que podem ser tomadas por você, em um primeiro momento, quando o seu saldo for positivo:
E em caso de seu saldo ter sido negativo, as dicas que temos para você são:
Além do exposto, é importante ressaltar que o controle do orçamento doméstico é um processo contínuo. Não adianta você fazê-lo somente no momento em que a situação estiver ruim e depois que a situação reverter você simplesmente parar. A história pode se repetir. A ferramenta utilizada (seja planilha, aplicativo ou caderno) para o controle do orçamento doméstico deve ser revisada e atualizada constantemente para que o resultado final seja preciso.
Conclusão
Sugerimos que não busque fazer o orçamento doméstico somente em momentos de crise. Começe agora mesmo que esteja em uma situação financeira tranquila uma vez que ao fazê-lo em momentos de bonança quando as turbulências financeiras chegarem, você estará preparado e não será “pego” de surpresa: conseguirá enfrentá-las com muito mais tranquilidade.
Podemos afirmar que o orçamento doméstico traz inúmeras vantagens para nossas vidas, embora em um primeiro momento possa parecer algo complexo e até mesmo desinteressante, se feito da forma correta e rotineira lhe trará muitos benefícios.
O bom orçamento doméstico só depende de nós mesmos. E tenha em mente sempre que se não soubermos valorizar nosso dinheiro ninguém fará isso por nós.
Abraços da equipe do NEF-UFU e até a próxima.
Dany Rogers é Doutor em Finanças pela EAESP/FGV, professor do curso de Administração e coordenador do Núcleo de Educação Financeira (NEF) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Especialista em Educação Financeira e Finanças Comportamentais. E-mail para contato: nef@pontal.ufu.br.
Andresa Carolina é graduanda em Administração e bolsista do Núcleo de Educação Financeira (NEF) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-mail para contato: nef@pontal.ufu.br.